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Poeta Nanda Fer Pimenta fala sobre conexão com ancestralidade

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Nanda Fer Pimenta foi uma das homenageadas em exposição na Câmara dos Deputados – (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)

Nascida na Bahia e criada em São Sebastião, no DF, a escritora e multiartista Nanda Fer Pimenta foi homenageada na Câmara dos Deputados e falou ao Correio sobre seu trabalho

Nanda Fer Pimenta foi uma das homenageadas em exposição na Câmara dos Deputados – (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)
Letícia Mouhamad 

‘Escrevivendo’, a poeta e multiartista Nanda Fer Pimenta ocupa espaços com suas palavras — existe e resiste. Muitos dos poemas falam sobre a conexão com sua ancestralidade. “É como uma flecha que me atravessa com várias outras histórias”, compara.

Nascida na Bahia e criada na periferia de São Sebastião, no Distrito Federal, a jovem começou a escrever no ensino médio, participando de coletâneas de poesias da própria escola. Descobriu que para ser escritora precisava ter o poder de narrar suas vivências, sem ser podada por não ter uma formação acadêmica na área das letras.

CIDADE
reia, Sangue, premiado na feira Dente de Ouro, Nanda explora o que lhe faltou como mulher preta periférica e mostra o que foi necessário sangrar para se tornar escritora, mesmo com a dor do racismo. Na segunda publicação, ela exibe o que foi curado dentro de si, fazendo alusão ao dendê, fruto encontrado em sua terra natal, que fortalece a vida com seu tempero ancestral.

“Sou uma mulher preta e tenho direito ao amor, não sou apenas resistência, sou existência”, diz. Em um dos poemas, sem título, lembra que as suas mãos não foram feitas para servir. “Eu existo para além da dor, eu faço, eu crio, eu produzo e eu escrevo”, completa.

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Questionada sobre como anda a produção cultural do DF, a escritora aponta para uma expansão, em vista dos editais de incentivo aos projetos de artistas das periferias. “Tenho percebido uma descentralização da produção, devido a esse fomento”, analisa.

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Além de trabalhar com as palavras, Nanda é estilista e atua no movimento cultural da cidade desde 2012, participando também de projetos teatrais. A moda, para ela, vai além das tendências e do vestir. Representa momentos políticos e sociais, nos quais é preciso se perguntar que linguagem determinadas roupas transmitem e como seu consumo desenfreado tem impacto na sociedade. Daí a sua mobilização em torno do slow fashion, que valoriza a mão de obra e preza por produções sustentáveis.

Homenagem

Nanda Fer Pimenta foi uma das homenageadas, em 20 de novembro, na exposição Pensamento negro no Brasil: uma conexão ancestral, apresentada na Câmara dos Deputados, em comemoração ao Dia da Consciência Negra, que segue até 12 de janeiro. A proposta dos curadores Geane Gomes, Maíra Brito e Raphael Cavalcante foi reverenciar a trajetória de negros e negras no Brasil, fazendo um diálogo entre passado, presente e futuro.

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“A poesia é o que sustenta muita coisa na minha vida, faz parte do meu dia a dia e se tornou minha profissão”. Entre as inspirações de Nanda estão Conceição Evaristo, “uma mulher que nos abraça”, comentou, e Cristiane Sobral, que publica pessoas pretas. Aos 32 anos, Nanda já lançou duas obras, Sangue, em 2018, e Dengo, em 2022, além de textos presentes em parcerias literárias.

Escrever sobre as próprias vivências é, para a autora Conceição Evaristo, que também foi homenageada, uma libertação, pois permite contar histórias singulares que remetem a experiências coletivas. ‘Escreviver’, portanto, significa compreender que o sujeito da literatura negra tem a existência marcada por sua relação e por sua cumplicidade com os outros. “Temos um sujeito que, ao falar de si, fala dos outros e, ao falar dos outros, fala de si”, definiu a escritora no livro Becos da Memória.

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Palavra de especialista

Conheça e inspire-se

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Cristiane Sobral*

A produção artística de mulheres negras, na periferia do DF, cresce a cada dia em quantidade e qualidade, mostrando que a literatura negra fora dos grandes centros também é referência.

A título de representação, não só em Brasília, mas em demais contexto, é importante citar escritoras como Lydia Garcia, Cleudes Pessoa, Karla Kalasans, Adelaide de Paula, Norma Hamilton, Dora de Paula, Cida Pedrosa e Amanda Balbino.

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Elas se destacam pela qualidade e diversidade estética de suas produções, adensando e enriquecendo o horizonte da literatura brasiliense e da literatura nacional, faróis que anunciam outras narrativas para a população negra no país.

Já os movimentos negros seguem no combate ao racismo, anunciando outros tempos, sempre atentos à promoção de políticas públicas em prol de uma sociedade mais equânime, inclusiva e democrática.

*Atriz, escritora, dramaturga e coordenadora de políticas públicas e territórios educativos no Ministério da Cultura. Também é diretora de literatura negra do Sindicato dos Escritores do DF

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Exposição

Pensamento negro no Brasil: uma conexão ancestral

Com textos e imagens plotados nas paredes, os visitantes podem ter uma experiência interativa, escrevendo, dentro da ilustração de um frondoso baobá — árvore que simboliza força e resistência entre muitos povos de África — nomes de pensadores negros que os inspiram. Por um QR code, também é possível acessar uma playlist sobre resistência negra, que apresenta músicas de vários estilos musicais, compositores e intérpretes.

Visitação: até 12 de janeiro de 2024

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Dias/horários: de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h

Local: Corredor Tereza de Benguela (corredor de acesso ao Plenário), edifício principal da Câmara dos Deputados

Entrada franca

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Fonte: Correio Brasiliense

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Curiosidades

Exposição “As Mulheres Cabaças” celebra a força feminina indígena

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Memorial dos Povos Indígenas estreia primeira mostra temporária de 2025

O Memorial dos Povos Indígenas (Zona Cívico-Administrativa, em frente ao Memorial JK) exibirá sua primeira exposição temporária no dia 28 de janeiro, com abertura a partir das 19h. O público poderá apreciar, até o dia 16 de fevereiro, as obras de As Mulheres Cabaças, uma homenagem à ancestralidade e ao protagonismo feminino do povo Mehin (Krahô). Idealizada pela artista indígena Kessia Daline Krahô, a mostra faz parte do edital de incentivo às exposições temporárias do Memorial, promovido pela gestão do projeto educativo da ONG Amigos da Vida, que conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal.

“As Mulheres Cabaças” apresenta um conjunto de trinta cabaças que narram histórias fundamentais para a formação e a identidade de seu povo, homenageando a luta e a força das mulheres indígenas. As peças destacam a força matriarcal e a sabedoria ancestral que atravessa gerações. Além disso, a mostra resgata a simbologia das cabaças como representação do feminino, da fertilidade e da conexão com a terra.

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Sob essa perspectiva, Kessia Daline Krahô exalta a cosmovisão cultural dos Mehin, enfatizando a conexão sagrada entre as mulheres indígenas, a natureza e todos os elementos que compõem o universo. “Nós, mulheres indígenas, estamos intimamente ligadas à terra e aos ciclos que sustentam a vida”, reflete a artista.

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A exposição conduz os visitantes por uma jornada imersiva em três histórias essenciais para a identidade cultural dos Mehin. A criação do cosmos e da vida: representa a origem do universo e o papel central das mulheres como criadoras e guardiãs. A segunda história mostra a centralidade feminina nos conhecimentos sobre a terra, nutrição e medicina e a terceira história se aprofunda no entendimento de quem são as mulheres cabaças e celebra o protagonismo das mulheres indígenas na política, economia e preservação dos ciclos naturais.

Sobre a artista

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Mulher indígena de origem tocantinense residente no DF, possui formação acadêmica em Serviço Social pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente é pedagoga em formação pela Universidade Paulista (UNIP), trabalha como educadora social indígena em uma escola pública no DF. É artista independente e, desde 2018, vem caminhando e realizando trabalhos artísticos em diversas áreas, como: performance, pintura, contação de histórias para crianças, arte-educação, atriz, poetisa, modelo fotográfica, cantora e atua também entre outras linguagens artísticas. Na caminhada, já fez palco desde a rua a lugares como Unibes CulturalSP e casas de cultura pelo país. A artista utiliza sua voz para fortalecer também o coletivo e honrar sua caminhada aqui, permitida por suas e seus ancestrais através das artes. É por meio das artes que Kessia Daline Krahô vem realizando diversos trabalhos artísticos, firme que seu corpo e sua arte são protagonistas para a representatividade de histórias plurais e que fogem do padrão vigente na sociedade como um todo.

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O Memorial

O acervo do Memorial dos Povos Indígenas possui um inventário formado por peças de plumárias, cerâmicas e com os insumos próprios de diversas etnias. No espaço, há uma reserva técnica com as peças doadas do acervo particular dos antropólogos Darcy Ribeiro, Berta Ribeiro e Eduardo Galvão. No espaço também há peças apreendidas pela polícia federal na Operação Pindorama.

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Serviço
Memorial dos Povos Indígenas
(Zona Cívico-Administrativa, em frente ao Memorial JK)
Funcionamento: De terça-feira a domingo, de 09h às 17h
Informações: @memorialdospovosindigenas
Acesso: 
gratuito

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