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Feminicídio: oito anos após aprovação da lei, 167 mulheres foram assassinadas no DF

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Igo Estrela/Metrópoles

Desde março de 2015, época na qual a Lei 13.104/2015 alterou o Código Penal, o Distrito Federal registrou 167 feminicídios

morte brutal da enfermeira Patrícia Pereira na noite de 30 junho, aos 41 anos no Setor Leste do Gama, levou o Distrito Federal à marca de 167 feminicídios registrados desde março de 2015. Foi nesta época que a Lei 13.104/2015 alterou o Código Penal prevendo o crime como circunstância qualificadora do homicídio, bem como para incluí-la no rol dos crimes hediondos.

O número de vítimas segue em alta com o passar dos anos. Somente em 2023, 20 mulheres tiveram suas vidas ceifadas pelas mãos dos companheiros ou ex. Dos 167 registros citados, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do DF, 50% foram cometidos com arma branca; 78% no interior da residência; 62% motivado por ciúmes; 77% das vítimas eram mães e, por fim, 78% dos autores já tinham algum antecedente criminal.

“A pena é uma forma pedagógica para se evitar crime. O cara mata a companheira, muitas vezes na frente dos filhos, fica ali uns cinco, 10 anos no cárcere, e tá na rua”, expõe Martins. “Hoje a pena máxima no país é de 40 anos, não mais de 30, como era antigamente. Então que coloque pena inicial de 30 anos”, defende.

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“O indivíduo tem que ter medo. Saber que se ele matar, já que não existe a pena capital [morte], que, pelo menos, ele fique ali 30 anos e que se cumpra, sem regalias de regressão no regime. Se houver essa tendência do garantismo, o crime vai seguir acontecendo”, explica o especialista em segurança pública.

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Martins explica que a comunicação da vítima tem que ser “precoce, no primeiro ato, para que o estado puxe a orelha. O estado não tem como proteger todo mundo. Muitas das vezes, o autor tem distúrbio psicológico que poderia ser tratado após um primeiro delito leve”.

“Hoje ele não tem medo, o que reina é a impunidade. Quando vai pra rua, começa a ter os benefícios, o feminicídio ficou pra trás, mas ele acabou com uma família, traumatizou crianças, e fica por isso mesmo. A gente vive no país do garantismo para os autores. A vítima, é só um detalhe”, destaca Moisés.

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Indícios psicológicos

Diretor do Instituto de Psiquiatria Clínica de Brasília (IPCB) e médico-psiquiatra do Hospital Santa Lúcia Norte, Fábio Aurélio Leite, alerta para indícios de distúrbios psicológico no qual as companheiras devem ficar atentas.

Segundo o especialista, a primeira coisa é levar em consideração é se a pessoa tem algum antecedente de violência, mesmo que não seja contra a mulher. Casos de briga de trânsito ou problemas no trabalho podem indicar pré-disposição a um comportamento imprevisível. Diante de qualquer suspeita, outra dica importante é verificar se o companheiro tem antecedentes criminais, independentemente de terem sido cometidos contra uma companheira ou não. Também recomenda-se sondar como eram os relacionamentos anteriores, os motivos pelos quais eles terminaram.

“Dentro da relação tem que ver a capacidade da pessoa de receber um ‘não’ como resposta. A necessidade de controle, se fica vigiando, querendo explicação. Se é uma pessoa que tem a intenção de afastar a mulher de amigos, principalmente, até de familiares”, alerta Fábio.

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De acordo com o especialista, o comportamento é uma estratégia para diminuir os contatos de pessoas que se interponha ou possam emitir opinião contrária ao que o agressor está fazendo.

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Aurélio explica que essas ações ocorrem de forma escalonada, e não repentinamente. Primeiro, há a fase da discussão. Depois, da agressão verbal, quando algumas palavras mais agressivas são preferidas ao ser contrariado. Qualquer agressão física, um beliscão que seja, pode indicar que algo mais grave está por vir.

“A ameaça tem que ser levada como algo que vai ser cumprido. É uma promessa que você não pode esperar”, aponta Leite.

O psiquiatra explica que até na hora de decidir terminar um relacionamento abusivo é importante agir com cautela. “Se você percebe que a pessoa não tem capacidade, maturidade de terminar um relacionamento, você não pode chegar e terminar de uma forma escancarada. Tem que ir devagar, tentar aos poucos ir se desvencilhando e buscar ajuda num psicólogo, amigos, parentes. Deixar com que ele se sinta seguro. A insegurança faz com que ele hostilize e fique mais agressivo. A perda do controle da pessoa faz com que ele perca o controle emocional”, finaliza o profissional.

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Elas por Elas

Em 2019, ano no qual o Distrito Federal registrou o maior número de feminicídios em um ano, o Metrópoles se desafiou a contar a história de todas as vítimas do referido ano: o Elas por Elas. Foram 365 dias monitorando os casos ocorridos em Brasília e em suas regiões administrativas a partir dos registros da Secretaria de Segurança, do Ministério Público, do Corpo de Bombeiros Militar e das polícias Civil e Militar.

Publicamos 544 matérias com a tag Violência Contra a Mulher e as páginas dessas reportagens foram visualizadas 11 milhões de vezes. Além disso, o projeto ganhou dois prêmios: Troféu Mulher Imprensa e Ñh – Lo Mejor del Diseño Periodístico.

Fonte: Metropoles
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“Redes de ódio” se espalham entre crianças e adolescentes

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Uma grande rede articulada que incitava crimes contra crianças foi desarticulada na manhã desta terça-feira (15/4) em operação da Polícia Civil do RJ – (crédito: FREEPIK)

Especialistas apontam caminhos a fim de conter a violência on-line infantojuvenil. Soluções exigem trabalho multidisciplinar

Desafios mortais, aliciamento de menores, grupos de ódio e violência extrema. Crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes se intensificam no Brasil, com dinâmicas que ocorrem em tempo real e se espalham por plataformas pouco monitoradas. Diante da lentidão do poder público em estruturar legislações e canais eficazes de denúncia, especialistas apontam medidas práticas que podem — e devem — ser adotadas por famílias, escolas e sociedade civil.

As soluções passam por envolvimento ativo dos pais, programas educacionais dentro das escolas, maior vigilância emocional e afetiva sobre os jovens, além do fortalecimento das políticas de responsabilidade das plataformas digitais. O cenário é urgente, e os especialistas são categóricos: o enfrentamento à violência virtual precisa ser coletivo, multidisciplinar e imediato.

Ela defende que as big techs devem ser responsabilizadas judicialmente, especialmente porque existem dados que evidenciam riscos para o público mais novo. “Essas plataformas são prestadoras de serviço. Aplica-se a elas o Código de Defesa do Consumidor. Portanto, não dá para dizer que elas não têm nenhuma responsabilidade. Temos também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que impõe a todos um dever de cuidado em nome do que chamamos de princípio do melhor interesse da criança”, diz.

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Frazão explica que as plataformas querem se isentar da responsabilidade, baseados “a partir de uma interpretação equivocada do artigo 19 do Marco Civil da Internet”, que exige ordem judicial prévia e específica de exclusão de conteúdo para a responsabilização civil de provedores, websites e gestores de redes sociais por danos decorrentes de atos ilícitos praticados por terceiros.

Na mesma linha, a advogada Giovanna Pieralli, especialista em proteção de dados, destaca a importância da mediação em casa e na escola. “A família como educador primário é essencial. Crianças e adolescentes aprendem muito por repetição e por visualização. Esse modelo de uso saudável da tecnologia tem que vir do núcleo familiar”, aponta.

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Giovanna Pieralli defende o papel educativo das escolas. “É preciso promover campanhas educacionais, trazer especialistas para palestras, fomentar um ambiente seguro de escuta e oferecer canais de denúncia dentro do ambiente escolar. Educação e conscientização são medidas indispensáveis”, diz.

Segundo a pesquisadora Michelle Prado, fundadora da ONG Stop Hate Brasil, o país falha em não realizar campanhas nacionais e não emitir alertas públicos antecipados sobre tendências perigosas. Ela elaborou dezenas de relatórios, que são públicos, ressaltando a preocupação com o tema. “O desafio do desodorante, que vitimou uma menina em Brasília, circula há mais de um ano. Eu alertei diversos ministérios. O FBI emitiu comunicado sobre isso. O Brasil, não”, denuncia.

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Ela critica a ideia de que apenas uma regulamentação seria suficiente. “Só a regulamentação não é bala de prata. É preciso um conjunto de ações, que vão desde inteligência, segurança pública, educação, plataformas. É uma abordagem que precisa ser tratada como política de saúde pública”, argumenta.

Diálogo e atenção

A psicóloga Carol Freitas reforça a importância da participação ativa da família, não apenas no cotidiano escolar, mas também nas experiências digitais das crianças e adolescentes. “É importante que os pais estejam presentes na vida on-line dos filhos, participem das vivências, perguntem, criem vínculos de confiança e incentivem o senso crítico. É preciso ser próximo, conversar, brincar, fazer o papel de pai e mãe, literalmente falando. Assim, a criança poderá reconhecer quando algo está fora do normal e alertar os responsáveis”, orienta.

A especialista alerta para sinais comportamentais que podem indicar situações de risco como mudanças bruscas de comportamento, isolamento, ansiedade, interesse excessivo em jogos digitais, desafios on-line ou redes sociais. “Tudo isso é sinal de alerta. Além disso, também tem a questão de sentir um medo excessivo ou um comportamento agressivo, também é um sinal de alerta de que há alguma coisa errada. Os pais e professores precisam estar atentos e alinhados”, aponta.

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A pesquisadora Lia Beatriz Torraca, pós-doutoranda no Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), destaca a centralidade das relações afetivas no ambiente digital. Segundo ela, o enfrentamento passa pela construção de vínculos reais. Ela destaca o controle do uso de celular nas escolas como um avanço importante.

“A proibição do uso de celulares em sala de aula, por exemplo, ajuda as famílias no controle, pois é um primeiro passo para impor limites. Mas é preciso mais. Precisamos tirar os jovens do quarto, do isolamento, e reinseri-los no mundo afetivo. Falta aproximação, cuidado e presença real”, afirma.

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Projeto Sinais

O Núcleo de Prevenção à Violência Extrema contra Crianças e Adolescentes, vinculado ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), nasceu de um caso concreto e da constatação de que a atuação analógica é a mais eficaz para prevenir a radicalização juvenil. O procurador de Justiça Fábio Costa Pereira, idealizador da iniciativa, conta que a ideia surgiu em 2023, a partir de um episódio registrado no município de Frederico Westphalen.

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Embora o núcleo só tenha sido oficialmente criado em 2024, a atuação começou como projeto-piloto em agosto do ano anterior, com o nome provisório de “força-tarefa”. A ação se consolidou em resposta à necessidade urgente de monitoramento no mês de abril — considerado crítico entre as subculturas violentas por reunir datas emblemáticas de ataques, como os massacres de Columbine, Virginia Tech, Realengo e o aniversário do ditador nazista Adolf Hitler.

Desde então, o projeto ganhou dimensão estadual. Em 2023, o núcleo capacitou mais de mil profissionais, incluindo seguranças, diretores, professores e servidores da assistência social. Foram realizadas 158 ações, com o cumprimento de 24 mandados de busca e apreensão, sete internações psiquiátricas, seis internações de adolescentes e quatro prisões.

“Este ano já atuamos em mais de 60 eventos, cumprimos mais de oito mandados de busca e apreensão e ingressamos com duas medidas protetivas em prol de adolescentes”, informa o procurador.

Segundo Fábio Costa Pereira, apesar da crescente ameaça no ambiente virtual, o diferencial do programa tem sido justamente a aposta no contato direto com os adolescentes. “Talvez, o grande ganho do projeto é que a gente entendeu que o analógico hoje funciona muito, e até melhor que o universo digital. Nós preparamos as pessoas que têm relação de proximidade com os adolescentes para reconhecer os sinais que eles deixam no caminho da radicalização”, explica.

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O procurador defende uma abordagem simples e integrada, enfatizando a importância de oferecer alternativas ao fascínio do universo digital. “Temos a tendência, diante de um problema, de buscar soluções complexas, quando, na verdade, precisamos de respostas simples e efetivas. Uma delas é justamente essa, no mundo analógico, preparar pessoas para reconhecer aquilo que está fora do lugar”, ressaltou. Atualmente, o projeto ampliou e todo o Ministério Público do Rio Grande do Sul está envolvido no combate à violência extrema.

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Fonte: Correio Brasiliense

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