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O que é bullying?

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os dados indicaram que o bullying psicológico ou verbal foi mais frequente (17,5%) do que aquele que envolve agressão física (3,7%)
Dias após mais um ataque a escolas, com a morte de quatro crianças em Blumenau, Santa Catarina, especialistas ouvidos pela Agência Brasil falam sobre os impactos do bullying entre os estudantes. Nesta sexta-feira (7), Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência nas Escolas, o assunto está ainda mais em evidência no país.
“O tipo de violência mais frequente na infância e no início da adolescência é o bullying”, disse Maria Fernanda Tourinho Peres, professora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Estudos sobre Violência e Saúde (Lieves).
Criada em 2016 para alertar para necessidade de se prevenir o bullying e outros tipos de violência nas escolas, a data relembra a tragédia ocorrida em 2011, quando um jovem de 24 anos invadiu uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro, e assassinou 12 crianças.
“O bullying é um tipo de violência persistente. Não é uma situação de violência que acontece uma vez e se esgota. É um tipo de violência que tende a ser persistente no tempo e tende a ser recorrente. Geralmente é aquela situação em que, por exemplo, um aluno ou um adolescente na escola fica sistematicamente e frequentemente sendo alvo desse tipo de violência”, ressaltou a professora.
Violência
Para ser considerado bullying, precisa haver um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. “O bullying é um tipo de violência que se estrutura, que surge e que se sustenta em torno de desequilíbrio de poder. Então há um polo mais empoderado – ou que simbolicamente ou socialmente ocupa uma posição de poder mais forte – e um polo que ocupa uma posição de poder mais fragilizado”, explicou Maria Fernanda.
“A palavra bullying deriva do termo inglês bully, que tem um sentido como substantivo que significa agressor e em termos verbais significa intimidar. Bullying, como derivado, é definido como um comportamento agressivo. No Brasil o termo surgiu no final dos anos 90”, explicou Araceli Albino, presidente do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo.
Segundo Zeyne Alves Pires Scherer, professora associada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), essa palavra é utilizada em diversos países no mundo “para definir o comportamento agressivo com ‘o desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob tensão’”.
A lei que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática define que o bullying é todo ato de violência física ou psicológica que ocorre de forma intencional e repetitiva, mas sem motivação evidente, com o objetivo de intimidar, agredir ou provocar dor ou angústia em uma ou mais pessoas.
Perfis
As principais vítimas de bullying, segundo Araceli, são as pessoas que apresentam uma certa fragilidade seja ela física, intelectual, social ou financeira. De acordo com Zeyne, a pessoa que é vítima de bullying costuma ficar isolada ou é excluída do convívio dos colegas. Ela também passa a manifestar sentimentos como ansiedade, tensão, medo, raiva reprimida, angústia, tristeza, desgosto, impotência e rejeição, mágoa, desejo de vingança e até pensamentos suicidas.
“Tudo que é excessivo é motivo para se preocupar: quando o sujeito está muito agressivo, ou muito isolado, quando perde o interesse na escola, em sair de casa, ou apresenta sintomas físicos de adoecimento, é importante os familiares, educadores e amigos prestarem atenção porque alguma coisa está errada. O melhor é prestar atenção, conversar e, em caso grave, procurar um profissional especializado, seja o psicanalista, psicólogo, médico e até um psiquiatra em determinados casos graves”, explicou Araceli.
Já o perfil do agressor é geralmente associado a uma pessoa que tem mais autoridade. “Ele precisa afirmar o seu poder pelos atos violentos, ele precisa se afirmar por meio de ações violentas”, disse ela.
Além de ser um fenômeno psicossocial, Zeyne destaca ainda que o bullying apresenta também um caráter epidemiológico e que, por isso, “precisa ser combatido como as outras formas de violência”.
Características do bullying
O bullying é caracterizado por diversas formas de agressão ou desrespeito sejam eles verbais ou físicos.
“Esse bullying pode ser verbal, como colocar apelidos que machucam ou que um adolescente não goste; pode ser um bullying físico; pode ser sexual; pode ser aquele que exclui socialmente um adolescente das brincadeiras e dos encontros; e pode ser também patrimonial, quando se pega estojos e cadernos ou rasga objetos [de outros]”, destacou Maria Fernanda.
“O bullying é manifestado por inúmeras ações como ofender, zoar, sacanear, humilhar, intimidar, constranger, discriminar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, excluir, isolar, ignorar, perseguir, chantagear, assediar, ameaçar, difamar, insinuar, agredir, bater, chutar, derrubar, ferir, esconder, quebrar, furtar e roubar pertences. A principal diferença das outras formas de violências é o potencial do bullyingem causar traumas irreparáveis ao psiquismo das vítimas, comprometendo sua saúde física e mental e seu desenvolvimento socioeducacional”, explicou Zeyne.
Uma pesquisa conduzida por Maria Fernanda com 2,7 mil adolescentes do nono ano do ensino fundamental de 119 escolas públicas e privadas da cidade de São Paulo apontou que três em cada dez estudantes já passou por situações de bullying nas escolas.
Os dados indicaram que o bullying psicológico ou verbal (“ofensas, sarros e risos”) foi mais frequente (17,5%) do que aquele que envolve agressão física (3,7%). Do total de adolescentes, 6% disseram ainda ter sofrido bullying de conotação sexual. Além disso, 15% dos jovens admitiram já ter praticado bullying com colegas, enquanto 19% disseram ter praticado algum tipo de agressão física.
O combate ao bullying
O combate ao bullying deve ser iniciado pelo entendimento de que ele não é uma brincadeira, mas uma forma de violência. “O bullying é um problema, ele não é uma brincadeira. A existência do bullying para mim significa a existência de violência na relação entre os adolescentes”, apontou Maria Fernanda.
De acordo com a professora, por se tratar de uma manifestação violenta, ele precisa ser combatido de forma conjunta pela sociedade.
“Qualquer estratégia de prevenção à violência nas escolas pede uma sensibilização, uma mobilização e uma participação de toda a comunidade escolar, não só dos envolvidos. E não é tão eficaz que as intervenções sejam separadas das dinâmicas geral da escola”, afirmou Maria Fernanda.
A professora ressalta ainda que a questão da violência não será resolvida apenas om a escola. Para ela, é “injusto exigir ou esperar que a escola dê conta de um problema tão complexo sozinha”.
“A escola ganha relevância porque os adolescentes e as crianças passam grande parte dos seus dias nas escolas. Mas isso não significa – e não é eficaz pensar – que apenas a escola é responsável por prevenir essas questões ou interferir nessas situações”, declarou. “Quando falamos em prevenção da violência – e bullying é um tipo de violência – a gente reconhece e recomenda a construção de ações que sejam intersetoriais. Há que ter a participação da escola, do setor da saúde, da assistência social e dos conselhos tutelares”, acrescentou.
Para a presidente do sindicato dos psicanalistas, o assunto causa sofrimento à vítima e também demonstra uma doença psíquica do agressor, “que pode até a cometer atos irreparáveis às vítimas e a ele mesmo”.
“O bullying não é uma fase ou uma parte normal da vida, não é um comportamento saudável e nem socialmente aceito. Não é um problema escolar que os professores têm que resolver: é uma questão do núcleo familiar – e estes precisam encarar o problema de frente”, disse Araceli.
Na avaliação de Maria Fernanda, o combate ao bullying passa também pelo aprofundamento do diagnóstico e do conhecimento. Essas informações servirão de base para medias públicas.
“Precisamos qualificar as informações de censos escolares, de notificações de bullying e de violências e de diferentes setores que compõem o sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes e deixar essas informações disponíveis para que se produza conhecimento. Com esse conhecimento, podemos gerar políticas efetivas e programas que serão implementados nas escolas, em parceria com unidades de saúde e com capacitação do conselho tutelar”, disse.
Para Araceli, o enfrentamento a esse tipo de violência deve envolver também o afeto. “Combater o bullying e qualquer outro tipo de violência é fundamental para o processo de humanização. É necessário que tenhamos responsabilidade com o processo civilizatório: e este só pode acontecer com conhecimento, com cultura e amorosidade. É necessário e urgente que se tenha maturidade político-social para que as pessoas possam se reconectar com os bons afetos e se distanciar da violência. Só os bons sentimentos e o conhecimento pode nos permitir lidar com as frustrações e com a dor inevitável, sem adoecimento”, acrescentou.
Com informações da Agência Brasil
Fonte: Jornal de Brasilia

Policiais
“Redes de ódio” se espalham entre crianças e adolescentes

Uma grande rede articulada que incitava crimes contra crianças foi desarticulada na manhã desta terça-feira (15/4) em operação da Polícia Civil do RJ – (crédito: FREEPIK)
Especialistas apontam caminhos a fim de conter a violência on-line infantojuvenil. Soluções exigem trabalho multidisciplinar
Desafios mortais, aliciamento de menores, grupos de ódio e violência extrema. Crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes se intensificam no Brasil, com dinâmicas que ocorrem em tempo real e se espalham por plataformas pouco monitoradas. Diante da lentidão do poder público em estruturar legislações e canais eficazes de denúncia, especialistas apontam medidas práticas que podem — e devem — ser adotadas por famílias, escolas e sociedade civil.
As soluções passam por envolvimento ativo dos pais, programas educacionais dentro das escolas, maior vigilância emocional e afetiva sobre os jovens, além do fortalecimento das políticas de responsabilidade das plataformas digitais. O cenário é urgente, e os especialistas são categóricos: o enfrentamento à violência virtual precisa ser coletivo, multidisciplinar e imediato.
Ela defende que as big techs devem ser responsabilizadas judicialmente, especialmente porque existem dados que evidenciam riscos para o público mais novo. “Essas plataformas são prestadoras de serviço. Aplica-se a elas o Código de Defesa do Consumidor. Portanto, não dá para dizer que elas não têm nenhuma responsabilidade. Temos também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que impõe a todos um dever de cuidado em nome do que chamamos de princípio do melhor interesse da criança”, diz.
Frazão explica que as plataformas querem se isentar da responsabilidade, baseados “a partir de uma interpretação equivocada do artigo 19 do Marco Civil da Internet”, que exige ordem judicial prévia e específica de exclusão de conteúdo para a responsabilização civil de provedores, websites e gestores de redes sociais por danos decorrentes de atos ilícitos praticados por terceiros.
Na mesma linha, a advogada Giovanna Pieralli, especialista em proteção de dados, destaca a importância da mediação em casa e na escola. “A família como educador primário é essencial. Crianças e adolescentes aprendem muito por repetição e por visualização. Esse modelo de uso saudável da tecnologia tem que vir do núcleo familiar”, aponta.
Giovanna Pieralli defende o papel educativo das escolas. “É preciso promover campanhas educacionais, trazer especialistas para palestras, fomentar um ambiente seguro de escuta e oferecer canais de denúncia dentro do ambiente escolar. Educação e conscientização são medidas indispensáveis”, diz.
Segundo a pesquisadora Michelle Prado, fundadora da ONG Stop Hate Brasil, o país falha em não realizar campanhas nacionais e não emitir alertas públicos antecipados sobre tendências perigosas. Ela elaborou dezenas de relatórios, que são públicos, ressaltando a preocupação com o tema. “O desafio do desodorante, que vitimou uma menina em Brasília, circula há mais de um ano. Eu alertei diversos ministérios. O FBI emitiu comunicado sobre isso. O Brasil, não”, denuncia.
Ela critica a ideia de que apenas uma regulamentação seria suficiente. “Só a regulamentação não é bala de prata. É preciso um conjunto de ações, que vão desde inteligência, segurança pública, educação, plataformas. É uma abordagem que precisa ser tratada como política de saúde pública”, argumenta.
Diálogo e atenção
A psicóloga Carol Freitas reforça a importância da participação ativa da família, não apenas no cotidiano escolar, mas também nas experiências digitais das crianças e adolescentes. “É importante que os pais estejam presentes na vida on-line dos filhos, participem das vivências, perguntem, criem vínculos de confiança e incentivem o senso crítico. É preciso ser próximo, conversar, brincar, fazer o papel de pai e mãe, literalmente falando. Assim, a criança poderá reconhecer quando algo está fora do normal e alertar os responsáveis”, orienta.
A especialista alerta para sinais comportamentais que podem indicar situações de risco como mudanças bruscas de comportamento, isolamento, ansiedade, interesse excessivo em jogos digitais, desafios on-line ou redes sociais. “Tudo isso é sinal de alerta. Além disso, também tem a questão de sentir um medo excessivo ou um comportamento agressivo, também é um sinal de alerta de que há alguma coisa errada. Os pais e professores precisam estar atentos e alinhados”, aponta.
A pesquisadora Lia Beatriz Torraca, pós-doutoranda no Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), destaca a centralidade das relações afetivas no ambiente digital. Segundo ela, o enfrentamento passa pela construção de vínculos reais. Ela destaca o controle do uso de celular nas escolas como um avanço importante.
“A proibição do uso de celulares em sala de aula, por exemplo, ajuda as famílias no controle, pois é um primeiro passo para impor limites. Mas é preciso mais. Precisamos tirar os jovens do quarto, do isolamento, e reinseri-los no mundo afetivo. Falta aproximação, cuidado e presença real”, afirma.
Projeto Sinais
O Núcleo de Prevenção à Violência Extrema contra Crianças e Adolescentes, vinculado ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), nasceu de um caso concreto e da constatação de que a atuação analógica é a mais eficaz para prevenir a radicalização juvenil. O procurador de Justiça Fábio Costa Pereira, idealizador da iniciativa, conta que a ideia surgiu em 2023, a partir de um episódio registrado no município de Frederico Westphalen.
Embora o núcleo só tenha sido oficialmente criado em 2024, a atuação começou como projeto-piloto em agosto do ano anterior, com o nome provisório de “força-tarefa”. A ação se consolidou em resposta à necessidade urgente de monitoramento no mês de abril — considerado crítico entre as subculturas violentas por reunir datas emblemáticas de ataques, como os massacres de Columbine, Virginia Tech, Realengo e o aniversário do ditador nazista Adolf Hitler.
Desde então, o projeto ganhou dimensão estadual. Em 2023, o núcleo capacitou mais de mil profissionais, incluindo seguranças, diretores, professores e servidores da assistência social. Foram realizadas 158 ações, com o cumprimento de 24 mandados de busca e apreensão, sete internações psiquiátricas, seis internações de adolescentes e quatro prisões.
“Este ano já atuamos em mais de 60 eventos, cumprimos mais de oito mandados de busca e apreensão e ingressamos com duas medidas protetivas em prol de adolescentes”, informa o procurador.
Segundo Fábio Costa Pereira, apesar da crescente ameaça no ambiente virtual, o diferencial do programa tem sido justamente a aposta no contato direto com os adolescentes. “Talvez, o grande ganho do projeto é que a gente entendeu que o analógico hoje funciona muito, e até melhor que o universo digital. Nós preparamos as pessoas que têm relação de proximidade com os adolescentes para reconhecer os sinais que eles deixam no caminho da radicalização”, explica.
O procurador defende uma abordagem simples e integrada, enfatizando a importância de oferecer alternativas ao fascínio do universo digital. “Temos a tendência, diante de um problema, de buscar soluções complexas, quando, na verdade, precisamos de respostas simples e efetivas. Uma delas é justamente essa, no mundo analógico, preparar pessoas para reconhecer aquilo que está fora do lugar”, ressaltou. Atualmente, o projeto ampliou e todo o Ministério Público do Rio Grande do Sul está envolvido no combate à violência extrema.
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