Casos de vandalismo em hospitais e UPAs do DF geram medo, traumas e sensação de insegurança nos profissionais
Por Luciane Paz
Por trás das janelas estilhaçadas e das portas quebradas das Unidades de saúde do Distrito Federal, há algo que não se vê, mas que se sente: o medo, o cansaço e a dor de quem veste o jaleco diariamente para cuidar da população. A violência contra o patrimônio público não é só uma afronta às estruturas físicas, é um golpe contra o SUS, os pacientes e os profissionais da saúde.
Nos últimos meses, unidades como as UPAs do Recanto das Emas e Ceilândia I, além do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), passaram por episódios de depredação. Pacientes e acompanhantes revoltados com a demora no atendimento, consequência direta da superlotação, partiram para a destruição. No HRSM, duas mulheres armadas com pedaços de madeira quebraram a porta do pronto-socorro infantil. O medo se espalhou. Crianças choraram, profissionais se sentiram acuados e a violência predominou.
“Foi uma cena desesperadora. Naquele momento, estávamos operando acima da capacidade, fazendo o possível. Quando isso aconteceu, o atendimento parou, os pacientes ficaram ainda mais inseguros. E nós, em choque”, relata uma enfermeira da unidade que prefere não se identificar.
Segundo o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IgesDF), que administra as UPAs e o HRSM, os episódios de vandalismo não apenas colocam em risco a integridade de todos os presentes como também atrasam os atendimentos e redirecionam recursos que seriam usados para melhorias.
“Cada equipamento danificado representa não apenas um prejuízo material, mas um verdadeiro retrocesso técnico e institucional. Recursos que poderiam ser direcionados à compra de medicamentos, ampliação de leitos ou contratação de profissionais de saúde acabam sendo desviados para reparos e reforço da segurança patrimonial”, ressalta Marcos Dutra, Diretor de Administração e Logística.
A Polícia Militar do DF, responsável pelo policiamento ostensivo, afirma atuar de forma imediata sempre que acionada para esse tipo de ocorrência. Além das rondas em áreas sensíveis, a corporação mantém diálogo constante com os gestores das unidades para alinhar estratégias de prevenção. “Depredar não acelera o atendimento. Pelo contrário, agrava a situação e prejudica toda a comunidade”, alerta a PMDF por meio de nota.
Os autores de vandalismo podem responder por crime de dano qualificado, com pena de até três anos de detenção, além de multa. Se houver agressão a servidores ou tumulto generalizado, os envolvidos também podem ser enquadrados por desacato ou lesão corporal. A corporação reforça a importância da participação da população com denúncias pelo 190, o que contribui para respostas mais rápidas e eficazes.
O impacto que não aparece na TV
Se o dano material é visível, o emocional ainda é tabu. A equipe multiprofissional vive sob tensão constante. Muitos já foram agredidos verbal e fisicamente. O trauma, por vezes, é silencioso, porém profundo.
“A violência gera medo, insegurança e desânimo, podendo afetar diretamente a qualidade e o tempo do atendimento prestado”, alerta a psicóloga Amsha Lima, do Programa Acolher, que atua com suporte psicológico aos colaboradores do IgesDF.
Segundo ela, insônia e irritabilidade por exemplo, são alguns dos sintomas de Transtorno de ansiedade e de Síndrome de Burnout, comuns em profissionais de saúde devido a um cenário de alta demanda. Se incluirmos episódios de violência durante o trabalho estes sintomas, quando presentes, podem se potencializar. “A exigência por produtividade é alta, mas o profissional, quando está fragilizado fica mais suscetível. E o que muitos esquecem é que atrás daquele jaleco há um ser humano, tentando desenvolver o seu melhor no trabalho, afirma.
Uma história que marca
A médica Nana Boahemaa, 43 anos, nascida em Gana, trabalha na UPA de Ceilândia desde 2019 e vive com as marcas físicas e emocionais da violência. “Eu estava atendendo um paciente quando, do nada, ele me enforcou dentro do consultório. Gritei, ninguém veio. Só depois que a segurança ouviu e conseguiu entrar. Foi horrível. Achei que ia morrer”, conta.
Desde o episódio, Nana não consegue mais atender pacientes com a porta fechada. “Fiquei com pânico. Queria sair da unidade. Só fiquei por causa da minha gerente, que me deu muito apoio”, diz.
Ela conta que, após o ataque, registrou um boletim de ocorrência e passou por exame de corpo de delito. “Foi muito difícil. Fiz tudo que era possível na hora, mas até hoje sinto os reflexos. A gente tenta seguir, mas situações como essa deixam marcas”, desabafa.
Medidas de segurança
Para combater essa onda de insegurança, o IgesDF iniciou a instalação de câmeras de segurança nas 13 UPAs do DF. A medida, segundo a gestão, visa inibir comportamentos agressivos e garantir maior controle das ocorrências. “Segurança também é cuidado em saúde. O sistema de vigilância vai nos ajudar a agir com mais agilidade em situações críticas”, explica o diretor-presidente do Instituto, Cleber Monteiro.
O investimento previsto é de R$ 13 mil mensais por unidade para manutenção do sistema. Além disso, o Programa Acolher tem reforçado ações de psicoeducação e suporte aos profissionais após situações de estresse extremo.
É preciso empatia
Apesar dos episódios de vandalismo, a maioria dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) respeita os profissionais e compreende as dificuldades do sistema. A violência, no entanto, cometida por poucos, tem prejudicado a todos.
“A mudança começa com a prática da empatia e do respeito. Sabemos que esperar em um pronto-socorro é angustiante, mas a depredação não acelera o atendimento, pelo contrário, pode atrasar ainda mais ou dificultar a chamada de outras pessoas na mesma situação”, reforça Amsha.
O Instituto reconhece a angústia da população diante da espera, especialmente em períodos críticos do ano. Ainda assim, ressalta que as unidades contam com equipes completas, conforme o previsto no contrato de gestão e nas normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde (MS). Ainda assim, apela ao bom senso: “Violência não é solução. É agravamento. Não podemos normalizar o caos”, finaliza o presidente do IgesDF.
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