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No Brasil, mistura racial nunca foi sinal de igualdade, diz Lilia Schwarcz; leia entrevista

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Imagens sempre fizeram parte do universo acadêmico da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, professora na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. No recém-lançado livro Imagens da Branquitude: A Presença da Ausência, ela mostra como o racismo estrutural tornou, historicamente, a arte brasileira um conjunto de representações de uma sociedade essencialmente branca.
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“Os artistas que reproduzem essas imagens trazem suas próprias representações. Então as imagens são muito significativas sobre os valores de uma época e sobre a produção de valores desta época”, comenta a historiadora.

Uma das obras trazidas por ela é o imponente quadro A Pátria, de 1918 do artista brasileiro Pedro Bruno (1888-1949). Na alegoria em que mulheres costuram a bandeira nacional e crianças representam a nascente República, o destaque está todo em pessoas brancas, como se o Brasil fosse um país sem negros ou indígenas.

“Por isso eu convoco os leitores e leitoras para ler imagens e pensar que elas não são ingênuas; elas produzem representação social, com impactos simbólico e concreto”, ressalta Schwarcz. “Basta ver que no Brasil a população negra não é uma minoria como nos Estados Unidos. É uma maioria, mas uma maioria minorizada na representação política, social, econômica e cultural também.”

Em entrevista à DW, Lilia Moritz Schwarcz fala ainda sobre a ideia da meritocracia, racismo e monumentos públicos.

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DW: Ao trazer o tema da branquitude por meio de imagens, o impacto acaba sendo maior? As imagens escancaram a realidade da discriminação?

Lilia Moritz Schwarcz: Acredito plenamente nisso. Diante de uma imagem é muito difícil negar a realidade. Há uma bibliografia muito farta sobre o tema da branquitude, muito importante, mas o tema não havia sido analisado sob a perspectiva das imagens. Vivemos em uma civilização das imagens. As imagens nos interpelam o tempo todo. No entanto, tendemos a naturalizar as imagens.

O livro pretende tirar as imagens desse lugar confortável e trazer crítica às imagens. O objetivo é exatamente esse, trazer o tema tão difícil como a branquitude. Porque a negritude é uma afirmação de luta, uma afirmação social. Mas a branquitude é muito a negação. Pessoas brancas tendem a desconfiar da definição, não acompanhar a definição justamente porque não se reconhecem enquanto praticantes do racismo. Este não é um livro de acusação ou de denúncia moral. É um livro de constatação. Nesse sentido, as imagens são muito fortes.

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Essas obras de arte são produções conscientes de registros discriminatórios ou elas simplesmente reproduziam o que era naturalizado naquele contexto e época?

Eu acho que nem uma coisa nem outra. Não digo que são produções conscientes para discriminar, mas também não acho que as imagens são só uma resposta a um contexto e uma época. Isso porque eu trabalho as imagens como reflexivas, ou seja, elas respondem a um contexto, mas elas também produzem o contexto no qual elas se inserem. Dito isso, não acho que há um caráter apenas manipulatório, apenas previsível das imagens. Não. Os artistas que reproduzem essas imagens trazem suas próprias representações. Então as imagens são muito significativas sobre os valores de uma época e sobre a produção de valores desta época. Nesse sentido, elas são conscientes, sim. Elas não são conscientes enquanto manipulação, mas são conscientes na medida em que elas oferecem uma janela, um espelho, para sua época.

Outra questão interessante trazida pelo seu livro é o caso de monumentos públicos que homenageiam conquistadores europeus. A senhora cita inclusive o caso da estátua do bandeirante Borba Gato, em São Paulo, que foi incendiada por ativistas em 2021. Essas obras precisam ser retiradas ou ressignificadas?

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Essa é a perspectiva do livro, eu mostro a diferença entre monumento e patrimônio. Monumento é uma escultura que fica perdida na cidade e patrimônio é quando a população coloca afetos e simbologia em cima desse patrimônio. No Brasil quase 100% dos monumentos são de [homenagens a] homens, e muitas vezes de homens colonizadores e violentos. Então eu não sugiro a derrubada dos monumentos. Mas eu sugiro vivamente que a população leia esses monumentos e produza monumentos e patrimônios alternativos, ou seja, para contar uma história, uma história menos colonial, menos europeia, menos masculina, menos sudestina, porque há um grande predomínio de São Paulo e Rio de Janeiro nessa história. E que contem histórias mais plurais.

Esses monumentos têm uma parte fundamental na afirmação desse tipo de história, uma história muito imperial e das elites, como se o povo não tivesse qualquer participação nesse destino brasileiro. Então eu sugiro a produção de outro tipo de monumento.

No livro, a senhora comenta que a ideia de meritocracia acaba naturalizando o monopólio branco dos espaços de poder. Isso é uma característica da sociedade brasileira?

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Não acho que seja uma característica só da sociedade brasileira. Na Europa, há muitos exemplos desse tipo, exemplos de discriminação que mostram como as sociedades brancas acreditam que chegaram a esse lugar de privilégio a partir do próprio mérito. Essa seria uma versão atual da teoria evolucionista da superioridade de algumas raças sobre as demais. Hoje sabemos que a palavra mérito é uma nova versão do mito da democracia racial, porque ela naturaliza, estabiliza condições de privilégio e de poder que são construções históricas, políticas e sociais e que devem ser questionadas no sentido de produzir a reflexão.

É claro que o Brasil, que foi o último país a abolir a escravidão mercantil, teve escravizados em todo o seu território e não teve políticas de inclusão social no período do pós-abolição, traz mais à frente esse tipo de questão da meritocracia. Ou seja: este é o país que se construiu a partir da ideia do privilégio naturalizado das populações brancas. Basta frequentar restaurantes chiques, teatros e cinemas para ver que, durante muito tempo, só pessoas brancas frequentavam esses espaços. O Brasil nunca teve um apartheid na lei, mas de alguma maneira praticou um apartheid por costume. Essa situação foi mudando sobretudo com as políticas de afirmação positiva e com as políticas de cotas, que têm alterado esses ambientes durante tanto tempo intocados.

A meritocracia é um discurso global das populações brancas europeias que justificam seu lugar de poder como um lugar de mérito, um lugar natural. O que não é.

Para uma boa parcela da população, segue prevalecendo a ideia de que “no Brasil não tem racismo”. A produção imagética do passado reforçou esse discurso?

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Durante muito tempo o discurso da democracia racial e a ideia de que o Brasil não tem racismo foram dominantes no Brasil. Ouso dizer que isto está mudando. E ouso dizer também que a produção imagética teve um papel muito grande no sentido de reforçar essa convivência tão idílica, tão calma.

É o que tento mostrar, como a ideia da mistura [racial] é uma ideia muito explorada pelos artistas europeus que vieram ao Brasil ou mesmo pelos artistas que foram financiados pela Coroa, pelo Império ou pelas elites republicanas. Por que isso? Porque é uma forma de evitar uma convulsão social no país, evitar discutir politicamente o fato de o Brasil ser o sexto país mais desigual do mundo e na camada mais pobre estarem sobretudo as populações negras e indígenas.

No Brasil, mistura nunca foi sinal de igualdade. Mas isso sempre foi vendido como imagem ideológica de Estado. Por isso eu convoco os leitores e leitoras para ler imagens e pensar que elas não são ingênuas; elas produzem representação social, com impactos simbólico e concreto. Basta ver que no Brasil a população negra não é uma minoria como nos Estados Unidos. É uma maioria, mas uma maioria minorizada na representação política, social, econômica e cultural também.

Nos agradecimentos do livro, a senhora comenta que “este não é um trabalho de natureza agradável”. Como leitor, posso dizer o mesmo: passar os olhos por essas imagens, com suas pertinentes explicações, muitas vezes me deixou enojado por essa história tão discriminatória. Espera que a obra seja recebida desta forma?

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Muito obrigada por esta pergunta. O livro produz esse choque mesmo. Na [editora] Companhia das Letras, os revisores e preparadores de texto sempre emitem uma avaliação do livro, e eles usaram o mesmo tipo de termo que você usa. Ou seja, que eles ficaram chocados, um pouco enojados, com as imagens, mas sobretudo ficaram chocados consigo próprios, pelo fato de eles não terem visto, terem passado por essas imagens e não terem lido essas imagens. Acho que o livro é bastante chocante, mas é necessário. Em geral, leitores têm me relatado que a partir de um certo momento eles e elas começam a perceber esses truques das imagens […] no sentido de consolidar, estabilizar uma situação que é muito violenta. Muitas vezes as pessoas pegam o livro e falam: “que livro lindo”. Eu sempre respondo: “não, lê mais um pouquinho para ver se ele é lindo ou não”.

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Politica

Governo lança 2ª Estratégia Brasileira de Educação Midiática e ganha destaque na semana global da UNESCO sobre o tema

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O secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, João Brant, anunciou o lançamento da 2ª Estratégia Brasileira de Educação Midiática, que aprofunda ações voltadas à promoção de habilidades críticas para acessar e analisar informações, à formação de professores e à cooperação internacional. Foto: Secom-PR

Durante Global MIL Week, em Cartagena, na Colômbia, Secom apresentou os principais resultados da política nacional de educação midiática e reforçou a cooperação com países da América Latina e com a França

Os avanços brasileiros em educação midiática estiveram em destaque na Global Media and Information Literacy Week 2025, conferência mundial da UNESCO realizada em Cartagena, na Colômbia, entre os dias 22 e 25 de outubro. A delegação brasileira apresentou as principais políticas e experiências nacionais no tema, reforçando o compromisso do país com a construção de um ecossistema informacional mais democrático, confiável e participativo.

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Representando o ministro da Secom, João Brant, secretário de Políticas Digitais, participou da mesa de encerramento da conferência ao lado do Vice-ministro de Transformação Digital da Colômbia, Oscar Alexander Ballén e Tawfik Jelassi, Diretor-Geral Adjunto de Comunicação e Informação da UNESCO. No painel, Brant anunciou o lançamento da 2ª Estratégia Brasileira de Educação Midiática, que aprofunda ações voltadas à promoção de habilidades críticas para acessar e analisar informações, à formação de professores e à cooperação internacional.
“A educação midiática é essencial para fortalecer a democracia. Quando as pessoas têm ferramentas para compreender e participar criticamente do ambiente informacional, o debate público se torna mais justo e mais plural. Essa nova Estratégia aprofunda esse compromisso do Brasil com uma sociedade que valoriza o diálogo e enfrenta a desinformação de forma coletiva.”, afirmou João Brant.

“A educação midiática é essencial para fortalecer a democracia. Quando as pessoas têm ferramentas para compreender e participar criticamente do ambiente informacional, o debate público se torna mais justo e mais plural. Essa nova Estratégia aprofunda esse compromisso do Brasil com uma sociedade que valoriza o diálogo e enfrenta a desinformação de forma coletiva”

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João Brant, secretário de Políticas Digitais
ATUALIZAÇÃO DA ESTRATÉGIA – Lançada em 2023 e coordenada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), a primeira Estratégia Brasileira de Educação Midiática apresentou eixos de atuação e prioridades da política, como formação de professores, enfoque na educação básica e nas temáticas relacionadas ao uso de telas e dispositivos por crianças e adolescentes. Em sua segunda edição, a Estratégia destaca os instrumentos de implementação da política e os principais resultados alcançados, especialmente em articulação com o Ministério da Educação, tais como:

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  • Inserção da Educação Midiática nos editais do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), fazendo com que o tema integre, pela primeira vez, o conteúdo dos livros didáticos que chegam às escolas brasileiras;
  • Primeira coleção de cursos sobre Educação Digital e Midiática, com 80 cursos disponibilizados na plataforma AVAMEC do Ministério da Educação, totalizando mais de 340.000 certificações gratuitas;
  • Primeiras diretrizes nacionais do Conselho Federal de Educação sobre o uso de dispositivos digitais em ambientes escolares e a integração curricular da educação midiática, prevendo que todas as escolas do país tenham o tema nos seus currículos até 2026;

A nível internacional, a Estratégia Brasileira de Educação Midiática também oportunizou a realização de projetos com França, Dinamarca, Finlândia e países membros da Rede Latinoamericana de Cidadania Digital da UNESCO. Além disso, a temática da educação midiática compõe um dos eixos da Iniciativa Global para a Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas liderada pelo governo brasileiro em parceria com a Organização das Nações Unidas e UNESCO.

GLOBAL MIL WEEK 2025 – Na semana global da UNESCO em Cartagena, a Secom participou de três painéis temáticos. O primeiro apresentou iniciativas-modelo de educação midiática, com foco na inserção do tema nos currículos escolares brasileiros e na mobilização social. A mesa reuniu representantes do Instituto Palavra Aberta, da Secretaria de Comunicação de Alagoas, representada pelo secretário Wendel Palhares, da Secretaria de Educação da Bahia, e do CEIBAL, do Ministério da Educação do Uruguai, parceiro da Secom no desenvolvimento de currículos em educação midiática e cidadania digital.

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Em outro painel, o Brasil apresentou, em parceria com o CLEMI (Centro para Educação Midiática da França), os resultados do projeto MídiaCOP, que qualificou professores da região Norte para a cobertura jornalística e crítica da COP30 por estudantes. O projeto inaugura um modelo inovador de formação de educadores voltado à sustentabilidade em articulação com a educação midiática.

A terceira mesa destacou a primeira Estratégia Brasileira de Educação Midiática no contexto da Rede Latino-Americana de Cidadania Digital, coordenada pela UNESCO Montevidéu. A discussão reforçou o papel do Brasil como referência regional no desenho de políticas públicas que combinam formação docente, pesquisa e participação social.

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Durante o evento, Brasil e França também anunciaram a segunda fase da cooperação bilateral iniciada com o projeto MídiaCOP. A nova etapa ampliará a formação de professores em educação midiática e climática para todos os estados brasileiros, com o apoio do CLEMI e da Embaixada da França no Brasil.

“Essa parceria é um exemplo de como a cooperação internacional pode fortalecer a educação e a democracia. O diálogo entre Brasil e França, com apoio da UNESCO, mostra que enfrentar a desinformação exige redes de confiança e de conhecimento”, completou Brant.
SBEM – No contexto da Global MIL Week, o governo brasileiro realiza, desde 2023, a Semana Brasileira de Educação Midiática (SBEM). Promovida em parceria entre a Secom e o Ministério da Educação com apoio da UNESCO, a edição de 2025 da Semana tem início nesta terça-feira (28) com uma abertura presencial em Brasília e se estende até sexta-feira com atividades online e presenciais em todos os estados do Brasil, promovidas por escolas e universidades. Saiba mais sobre a Semana aqui.

 

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Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

CONTATOS:
ATENDIMENTO
E-mail: secom.imprensa@presidencia.gov.br
Tel.: (61) 3411-1601/1044

FOTOGRAFIA
E-mail: seaud.secom@presidencia.gov.br
Tel.: (61) 98100-1993 (apenas por mensagem via Whatsapp)

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