Esporte
Atleta cega conta como superou barreiras e conquistou 650 medalhas

Ádria nasceu em Nanuque, no interior de Minas Gerais, em agosto de 1974, com retinose pigmentar, uma doença degenerativa nos olhos
Conhecida como Filha do Vento, Ádria Santos, a maior medalhista mulher do país, reúne feitos impressionantes. Tetracampeã paralímpica, ela tem 73 medalhas conquistadas em competições internacionais e outras 583 em provas nacionais, ao longo de 27 anos de carreira esportiva. Entre essas conquistas, estão as 13 medalhas em seis Jogos Paralímpicos: Seul, Barcelona, Atlanta, Sydney, Atenas e Pequim.
Em entrevista exclusiva para a Agência Brasil, a atleta de 48 anos conta sua trajetória de destaque no esporte e as perspectivas para o futuro, em uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta quarta-feira (8).
Ádria nasceu em Nanuque, no interior de Minas Gerais, em agosto de 1974, com retinose pigmentar, uma doença degenerativa nos olhos, e ficou completamente cega aos 18 anos – quando já havia se mudado com a família para Belo Horizonte.
A atleta chegou a fazer transplante de córnea para amenizar fortes dores nos olhos, mas não voltou a enxergar. A cegueira, no entanto, não foi obstáculo. Auxiliada por um corredor chamado “guia”, se mUocínio. O esporte paralímpico não era divulgado como é hoje. Quando comecei havia essa dificuldade de ter material [de corrida] adequado, por exemplo”, afirma.
Nas palavras de Ádria, o auge de sua carreira foram as Paralimpíadas de Sydney, em 2000. Na ocasião, ela conquistou duas medalhas de ouro, nos 100 metros (m) e 200m rasos. Esta última prova garantiu à velocista um recorde por 11 anos.
“Com quatorze anos fiz a minha primeira participação em jogos paralímpicos, já voltando com du
Superação
Para Ádria, seu maior desafio foi deixar a carreira. A aposentadoria chegou dois anos após uma contusão no joelho em 2012, que a deixou de fora das Paralimpíadas de Londres. Ela conta que entrou em depressão e chegou a trancar todas as suas medalhas e prêmios em um quarto para que não pudesse vê-los.
“Eu não tinha nem vontade de ver as minhas conquistas, aquilo para mim era como se tivesse acabado. Então chegou o momento que percebi que precisava de ajuda. Procurei um psicólogo e tive que tomar medicamentos e só saí disso voltando paras corridas”, diz.
“Foi um momento bem ruim que eu passei. Esse sentimento é bem comum com atletas de alto rendimento, porque a gente vive intensamente, é muita adrenalina. A minha vida era só treinar, treinar, treinar. Era de segunda à sábado, treinava de manhã, de tarde e eu sempre fui muito focada, muito determinada. Sempre me coloquei metas. Eu vivi muitos anos assim, quando eu entrava numa pista tinha aquela sensação de fazer o meu melhor, sempre respeitando os adversários. Então, quando eu me vi fora, foi bem difícil”, conta.
A corrida voltou para a vida Ádria para resgatá-la do sofrimento, mas em vez de pistas de corrida em estádios, o palco eram as ruas. Antes, fez dança de salão, pole dance, pilates e chegou até o paraciclismo, em 2018.
“Comecei a praticar corrida [de rua], correr cinco quilômetros e fui colocando algumas metas e assim comecei a participar novamente de competições. As pessoas me reconheciam, me cumprimentavam: ‘que legal você estar aqui’. Mas elas não sabiam que eu estava precisando de ajuda, mas acabaram me ajudando a superar. Teve um momento em que eu não conseguia nem entrar em pista de atletismo, me dava ansiedade, pânico”, acrescenta.
Dedicação
Atualmente, a atleta comanda o Instituto Ádria Santos, que oferece aulas gratuitas de atletismo para crianças de 6 a 12 anos, com ou sem deficiência, em Joinville, Santa Catarina. Com sua história de vida, Ádria busca incentivar os jovens a se dedicar ao esporte.
“Sempre tento mostrar não a minha deficiência, mas sim a capacidade que eu tenho de fazer algo que gosto. O atletismo é a minha paixão. Quando eu estou correndo, o sentimento é de liberdade e, para mim, isso é maravilhoso”, conta a atleta.
Segundo Ádria, mostrar a importância da inclusão na formação dos pequenos: “brincando elas vão aprendendo as técnicas do atletismo e a convivência com a criança que tem uma deficiência ou mesmo comigo é muito importante. Eles vão vendo como é natural brincar comigo, mostrar as coisas para mim de algo que elas estão vendo”, descreve.
“Eu digo que esse projeto é mais um troféu para mim. É o troféu mais importante, pois é o que estou vivendo hoje”, acrescenta.
Ela conta que estimula as crianças atendidas pelo projeto a encontrar um esporte que realmente gostem para se dedicar, mas sem esquecer que nem todos serão recordistas ou medalhistas.
“É o que eu falo paras minhas crianças: primeiro, nós temos que gostar da modalidade, ter coragem. Quando a gente faz algo que gosta, o resultado vem – sendo um atleta ou não. Nós sabemos que muitas pessoas praticam, mas poucos conseguem chegar a uma Olimpíada ou Paralimpíada. Eu digo que elas têm que fazer o melhor, pois a maior medalha e a que podemos ganhar em tudo é aquilo que fazemos com amor”, finaliza.
Com informações da Agência Brasils

Esporte
Rebeca Andrade e Caio Bonfim são os melhores atletas de 2024; veja todos os premiados

Rebeca, que se tornou em Paris a maior medalhista da história do Brasil em Jogos Olímpicos, superou a judoca Beatriz Souza e a canoísta Ana Sátila para levar o prêmio.
Desta vez, Rebeca não foi à cerimônia porque está fora do País, em viagem a lazer com as colegas da ginástica. Mas gravou um recado sucinto em vídeo. “Quero agradecer a todos que fizeram que o ano da ginástica fosse histórico”, comentou ela.
Outra vitória da ginástica na cerimônia foi a eleição de Francisco Porath, o Chico, como melhor técnico. É ele o responsável pelo sucesso da ginástica brasileira. “Muiitas pessoas aposentaram essas meninas”, desabafou ele. “Mas agora tem fila de meninas querendo fazer ginástica. O Brasil tem que ser o país da ginástica”.
Entre os homens, Caio Bonfim, que fez história nas ruas de Paris, conquistou seu o prêmio pela primeira vez ao superar o multimedalhista Isaquias Queiroz, da canoagem, e Edival Pontes, do taekwondo. O brasiliense de 33 anos ganhou na capital francesa a medalha de prata na marcha atlética de 20 km para o Brasil – a primeira da história para o país.
Carismático, brincalhão e emocionado, ele repassou seu início acidentado no esporte até festejar a primeira medalha em sua quarta Olimpíada. “Não desisti, fui para mais um ciclo, tentei de novo e acho que fui o primeiro a ganhar a medalha na quarta edição. Saí de Paris com a melhor das lições: acredite no sonho de vocês e trabalhe. Vale a pena”, afirmou o grande vencedor da noite.
Caio também foi escolhido, por voto popular, o Atleta da Torcida. Outras duas categorias foram escolhidas por meio de voto popular: Atleta Revelação e o Prêmio Inspire. Os vencedores foram, respectivamente. Gustavo “Bala Loka” (ciclismo BMX freestyle) e Ana Sátila (canoagem).
Lenda do vôlei, José Roberto Guimarães foi condecorado com o Troféu Adhemar Ferreira da Silva, destinado, segundo o COB, a personalidades do esporte que representam os valores que marcaram a carreira e a vida do bicampeão olímpico no salto triplo, como ética, eficiência técnica e física, esportividade, respeito ao próximo, companheirismo e espírito coletivo.
Homenagens e despedidas
Zé Roberto é um dos maiores vencedores do esporte nacional, responsável por levar as seleções de vôlei a cinco medalhas olímpicas. É o único brasileiro tricampeão olímpico, embora nunca tenha sido premiado com medalhas em razão das regras dos Jogos Olímpicos, que premiam apenas os jogadores.
“Agradeço cada sorriso, cada aperto de mão, a solidariedade, principalmente quando a gente perdeu para os Estados Unidos (nas semifinais dos Jogos de Paris)”, discursou Zé Roberto, que aceitou renovar seu contrato por mais quatro anos. Caso leve o Brasil aos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028, ele completará 25 anos ininterruptos como treinador da seleção feminina, feito histórico.
“O que me faz continuar é representar 220 milhões de pessoas. É vestir essa camisa, é ver meu time no pódio, é sentir a energia que é incalculável. Difícil dizer como é esse sentimento”, disse o treinador.
Outros homenageados da noite foram Erlon Souza (canoagem velocidade), Bruno Fratus (natação), Ágatha Rippel (vôlei de praia) e Isabel Swan (vela). Eles foram lembrados por suas carreiras bem-sucedidas. Fratus, aliás, decidiu anunciar oficialmente sua aposentadoria na premiação.
Ele disse ter sido convencido pelo também ex-nadador Gustavo Borges de que o atleta, quando para, não morre duas vezes, e sim nasce duas vezes, contrariando o conhecido aforismo. “A mensagem que deixou para quem nos assiste é: pratique esporte porque muda vidas, e, com certeza, mudou a minha”, falou o ex-nadador.
Não somente atletas se despediram. No último mês à frente do COB, o presidente Paulo Wanderley fez um discurso longo para elencar os seus feitos à frente da entidade. “Considero cumprida minha missão”, afirmou o dirigente, que será sucedido em janeiro por Marco La Porta, eleito presidente com apoio maciço dos atletas há dois meses.
Já Arthur Elias, eleito melhor treinador coletivo, citou os altos índices de violência contra a mulher e que as mulheres sejam respeitadas e valorizadas. O técnico da seleção brasileira feminina de futebol espera que o futebol feminino continue a ser apoiado por políticas públicas e pela iniciativa privada.
As homenagens póstumas foram apresentadas no telão. Zagallo, Maguila, Pampa e Luiz Onmura, além dos jornalistas Antero Greco, Silvio Luiz, foram lembrados por anos de dedicação ao esporte.
O evento foi apresentado pela atriz Larissa Manoela, madrinha do Time Brasil, e pelo humorista Paulo Vieira, apresentador da TV Globo.
PRÊMIOS PRINCIPAIS
Atletas do Ano – Rebeca Andrade e Caio Bonfim
Atleta Revelação – Gustavo “Bala Loka” (ciclismo BMX freestyle)
Atleta Influenciador do Ano – Flávia Saraiva
Atleta da Torcida – Caio Bonfim (marcha atlética)
Prêmio Inspire – Ana Sátila (canoagem)
Destaques dos Jogos da Juventude – Giovana Fioromonte (judô) e Lucio Filho (natação)
Equipe do ano: futebol feminino
Melhor Equipe mista – judô
Melhor treinador individual – Francisco Porah (ginástica artística)
Melhor treinadora individual – Sarah Menezes (judô);
Melhor treinador coletivo – Arthur Elias
Troféu Adhemar Ferreira da Silva – José Roberto Guimarães (técnico da seleção brasileira feminina de vôlei)
Prêmio Espírito Olímpico – Christian Gebara (CEO da Vivo).
VENCEDORES POR MODALIDADE
Atletismo – Caio Bonfim
Águas Abertas – Ana Marcela Cunha
Badminton – Juliana Vieira
Basquete – Marcelinho Huertas
Basquete 3 x 3 – Luana Batista
Breaking – B-Girl Mini Japa
Boxe – Beatriz Ferreira
Canoagem Slalom – Ana Sátila
Canoagem Velocidade – Isaquias Queiroz
Ciclismo BMX Freestyle – Gustavo Bala Loka
Ciclismo BMX racing – Paola Reis
Ciclismo de estrada – Ana Vitória ‘Tota’ Magalhães
Ciclismo mountain bike – Ulan Galinski
Ciclismo de pista – Wellyda Rodrigues
Desportos na neve – Zion Bethonico
Desportos no gelo – Nicole Silveira
Escalada esportiva – Rodrigo Hanada
Futebol – Lorena
Ginástica Artística – Rebeca Andrade
Ginástica Rítmica – Bárbara Domingos
Ginástica de Trampolim – Ryan Dutra
Handebol – Bruna de Paula
Hipismo adestramento – João Victor Oliva
Hipismo CCE – Rafael Lozano
Hipismo saltos – Stephan Barcha
Hóquei Sobre a Grama – Lucas Varela
Judô – Beatriz Souza
Levantamento de Peso – Laura Amaro
Nado Artístico – Marina Postal e Eduarda Mattos
Natação – Guilherme Costa, o Cachorrão
Pentatlo moderno – Isabela Abreu
Remo – Lucas Verthein
Rugby Sevens – Thalia Costa
Saltos Ornamentais – Ingrid Oliveira
Skate – Rayssa Leal
Surfe – Tatiana Weston-Webb
Taekwondo – Edival Pontes, o Netinho
Tênis – Beatriz Haddad Maia
Triatlo – Miguel Hidalgo
Tênis de Mesa – Hugo Calderano
Tiro com Arco – Marcus D’Almeida
Tiro esportivo – Geovana Meyer
Vôlei – Gabi Guimarães
Vôlei de Praia – Duda Lisboa e Ana Patrícia
Vela – Bruno Lobo
Wrestling greco-romana – Joilson Junior
Wrestling livre – Giulia Penalber
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